Afinal, como é “Lenda dos Cinco Anéis” RPG? – Parte 3

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(Não leu a primeira parte? Nela se explica a premissa básica de Lenda dos Cinco Anéis, em como o mundo se parece com o Japão e os primórdios da história do Império de Rokugan, já na segunda parte eu falo sobre os Grandes Clãs aos quais os personagens jogadores podem pertencer).

Adversários dos Samurais de Rokugan

Um Mundo Cinza e os Samurais como Inimigos

Uma das propostas em Lenda dos Cinco Anéis é mostrar uma sociedade samurai onde não existe o preto e branco. Bondade e maldade são conceitos ocidentais e, para um Império baseado no nipônico, pareceriam estranhos, excêntricos e, portanto, impróprios. E é importante observar que numa sociedade estratificada e baseada na tradição, algo impróprio pode ser encarado como muito ruim. No entanto, devido a serem tradicionalistas por natureza, o mundo dos samurai trás uma série de regras de conduta e de moral que precisam ser observadas.

A primeira, e talvez mais importante, dessas regras é o Bushido. O Caminho do Guerreiro foi cunhado nos primórdios do Império Esmeralda pelo Kami Akodo com a proposta dele ser um guia para os atos e para o comportamento dos samurais. Suas sete virtudes (compaixão, coragem, dever/lealdade, cortesia, justiça, honra e sinceridade) deveriam ser pilares nos quais a casta superior deveria se guiar. No entanto, essas virtudes apresentam conceitos que são mais complexos do que a primeira vista e que sua interpretação e aplicação são imprevisíveis. Além de muitas vezes serem simplesmente conflitantes. Se um daimyo ordena que um samurai assassine um rival na calada da noite, como esse guerreiro irá gerenciar a honra, o dever e a justiça? Algum desses três precisará ser quebrado.

E o Bushido é apenas uma das coisas que afeta a vida e os atos de um Samurai em Rokugan. É preciso respeitar a hierarquia, a autoridade, baixar a cabeça para os superiores, entender e lidar com a burocracia Imperial, atentar para as regras de etiqueta, para os ancestrais, para a Ordem Celestial, para a política entre os clãs, entre as famílias dos clãs, entre as famílias imperiais… Em cada um desses elementos existe uma série de armadilhas sociais, formas de perder e ganhar honra, modos de matar e morrer, além de justificativas para os atos de um samurai.

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Encontrar essa justificativa é muito importante na sociedade rokugani, do contrário, os atos de um indivíduo serão usados contra ele e poderá vir a ser considerado indigno e forçado a cometer seppuku (o suicídio ritual). Até mesmo coisas como usar o tom de roupa errado no momento errado pode acabar com um samurai precisando dar um fim à própria vida para salvar a imagem de seu clã, ou mesmo criar uma guerra no seio do Império.

Mas nem sempre se trata de apenas procurar uma justificativa. Com tantas coisas para se atentar, principalmente coisas que acabam conflitando entre si, os samurais acabam escolhendo para si e acreditando em determinadas interpretações ou ordem de importância. O Clã Escorpião costuma colocar o Dever acima da Honra, fazendo o que for necessário para o bem do clã e do Império, as vezes mesmo que isso envolva um golpe de estado contra o Imperador. Já para o Leão a Honra é tudo e a Compaixão é negligenciada, sendo capazes de dizimar uma aldeia camponesa por estarem ferindo o orgulho do clã ao não pagarem os impostos num período de colheita ruim.

Isso significa que os personagens dos jogadores podem acabar entrando conflito entre si ou confrontando amigos do próprio clã. E sempre ficará a dúvida de quem estava certo, pois aos olhos da sociedade rokugani, diversas formas de agir podem ser consideradas corretas. Entretanto, o modo dos samurais e sua casta em eterno conflito fazem com que seja muito fácil que dois indivíduos com crenças diferentes ofendam um ao outro e exijam sangue em reparação. A estrutura dos clãs, cada um com suas próprias virtudes e objetivos gera uma situação em que sempre se pode esperar atrito e guerra enquanto cada Grande Clã busca louvar os seus ancestrais, seu lugar no Império e fazer de Rokugan o lugar que, em sua visão, deveria ser.

As Terras Sombrias e o Mal Maniqueista

Apesar de toda a ambiguidade moral que existe neste mundo de samurais, é possível tratar de temas mais maniqueístas, onde o inimigo é claro e sua maldade absoluta.

Quando o Kami Fu Leng caiu no mundo dos mortais, ele não apenas se chocou contra o solo, como seus irmãos, mas atravessou a própria tessitura do mundo e acabou por alcançar o Jigoku, o Reino Espiritual do Mal. Imediatamente as forças malignas do lugar corromperam e enlouqueceram o Kami, fazendo com que Fu Leng se tornasse o seu campeão na busca por corromper o mundo dos mortais. Pior do que isso, a queda de tal entidade criou caminho conhecido como o Poço Infecto, que ligava diretamente o mundo mortal ao Jigoku.

Corrompido pelos sussurros e pelas energias do Jigoku, Fu Leng jurou derrotar o Império que foi criado pelos seus irmãos. Não foi difícil conseguir um exército, ao Redor do Poço Infecto se formou as Terras Sombrias, um lugar corrompido pelas forças malignas do Reino do Mal, onde a flora e a fauna foram transformadas em servos malignos de Fu Leng e onde os Onis, criaturas perversas do Jigoku, espreitam.

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As Terras Sombrias são uma ameaça constante para Rokugan, existindo logo além das terras do Clã Caranguejo e da Muralha do Carpinteiro, onde os bravos samurais do Clã de Hida morrem todos os dias em defesa do Império. Mas não é tudo. Como se os Onis não fossem ameaça o suficiente, existindo em diversas formas e poderes, por vezes de matar centenas de samurais antes de serem abatidos, também existe a Mácula.

A Mácula das Terras Sombrias, como é chamada, é o toque do próprio Jigoku, que pode ser transmitido pela permanência prolongada nas Terras Sombrias, ou então por entrar em contato com Onis e bakemonos. Esta Mácula corrompe não só o corpo de um samurai, mas também o seu espírito. Pouco a pouco tornando ele uma paródia do que era e deixando-se dominar pelo mesmo desejo destrutivo do Kami Fu Leng.

A ameaça das Terras Sombrias pode ser usada tanto de forma explícita, com hordas de Onis, goblins e outras criaturas ameaçando o Império ou então com sutileza, afinal, a corrupção da Mácula pode estar aonde menos se espera. Talvez aquele ronin amistoso seja na verdade um oni disfarçado e o senhor de um de um samurai tenha sido dominado por forças malignas, sutilmente lhe dando tarefas que trarão a ruína do Império.

Outras Ameaças ao Império Esmeralda

Ainda que conflitos internos e a ameaça do Kami Negro e das Terras Sombrias possam ser considerados como os maiores problemas de Rokugan, nem de longe são os únicos problemas que Rokugan precisa enfrentar. Raças antigas, feitiçaria proibida, mortos-vivos, organizações secretas, espíritos, bárbaros e estrangeiros.

Entre esses é importante mencionar o Culto dos Oradores de Sangue. O grupo foi iniciado por Iuchiban, filho da Imperatriz Yugozohime e praticavam uma espécie de magia sinistra conhecida como maho, a feitiçaria de sangue. Sem basear seus poderes dos kami elementais, mas de uma ligação com energias malignas, os maho-tsukai possuem capacidades sinistras e podem aumentar o poder de suas magias ao derramar o sangue alheio. Uma característica muito preocupante do maho é que qualquer um, mesmo os que não sejam shugenjas, podem utiliza-la, mesmo o mais mundano dos camponeses. Fato que torna sua difusão algo muito complicado de se conter. Tendo sido desenvolvida por um homem que não se contentava com a sua posição, a ambição e a ânsia por poder existe na maioria dos maho-tsukai. E tamanha é a ambição de Iuchiban que ele tem o mau hábito de retornar da morte para atormentar Rokugan.

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Destas outras ameaças, a Conspiração Kolat também merece destaque. Surgidos durante a própria criação de Rokugan pelos descontentes das imposições dos Kami, esta organização secreta é um grupo que reúne diversos samurais do Império sob uma crença blasfema: a ideia de que o homem mortal é maior do que o divino. Devido a isso, a Kolat vai contra a maior parte da sociedade rokugani, que acredita nos Kamis e no poder do Tengoku, bem como na posição do homem na Ordem Celestial. Mas os samurais desta organização acham que os mortais merecem mais e trabalham para combater toda influência dos celestiais em Rokugan. A maior destas influências é a figura do próprio Imperador, que supostamente possui ligações com o divino e o direito/dever de governar. O objetivo final? Fazer com que os mortais governem a si mesmos, longe de qualquer influência divina. Divididos em diversos sectos e compostos por diversos membros que não se conhecem entre si, os kolats formam uma rede de influência e de riqueza através do Império, sendo conhecidos pela maioria dos samurais como apenas um rumor ou uma história para assustar os mais ingênuos. Exatamente como a Kolat planejou.

O mundo de Rokugan é um lugar rico em criaturas, aliados e adversários para os jogadores. É fácil de inserir praticamente qualquer criatura de mitologias e lendas orientais. Não foram mencionados aqui, por exemplo, as grandes raças que outrora habitavam a região do Império Esmeralda, como os Nezumi e as Nagas. Ainda existem organizações como a Gozoku, que também busca depor o Imperador. Bandidos e piratas são um problema recorrente, gaijins por vezes ameaçam o Império. Existem dezenas de tipos de mortos-vivos, além de centenas de criaturas das Terras Sombrias que não são onis. Isso sem falar na grande quantidade de criaturas fantásticas (ou tenebrosas) individuais que por vezes interagem com os samurais de Rokugan.

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Veja também o site da New Order, que trouxe L5A para o Brasil

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Por Renan Barcellos

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